Ministério da Saúde vai discutir a incorporação da vacina contra febre amarela para crianças de todo o País. Atualmente, o imunizante é indicado para maiores de seis meses que vivem em áreas consideradas de risco.
Uma corrente de pesquisadores, no entanto, avalia ser necessária a extensão da proteção para crianças de todo o território nacional. O diretor do departamento de Doenças Transmissíveis do Ministério da Saúde, Eduardo Hage, afirmou que a discussão será feita por um comitê assessor do ministério. Ela somente será retomada, no entanto, depois de encerrado o surto da doença, o pior enfrentado no Brasil nos últimos 14 anos.
Desde o início do ano, a doença foi confirmada em 70 pacientes, com 40 mortes. Há ainda outros 364 casos em investigação – dos quais 49 são óbitos. Os registros foram feitos nos Estados de Minas, Espírito Santo, Bahia, São Paulo e Bahia.
“A incorporação da vacina no calendário teria reflexos a médio prazo, pois as crianças seriam o alvo. O importante agora é vacinar a população que está sob risco”, afirmou Hage.
A cobertura vacinal em Minas, Estado mais atingido pelo surto, é considerada baixa: cerca de 50% da população já recebeu o imunizante contra a doença. A estimativa da subsecretária de saúde de Minas, Marcia Faria, é de que pelo menos 2,2 milhões de pessoas vivam em áreas de maior risco para a doença. Ela não soube informar quantas pessoas já estão imunizadas. As doses de vacinas encaminhadas pelo ministério para o Estado, disse, foram suficientes até o momento. “Nem toda a população precisa ser vacinada. Muitos já receberam as duas doses do imunizante”, completou.
O Ministério da Saúde e representantes das secretarias dos Estados mais atingidos pelo surto da doença fizeram um esforço conjunto para tentar evitar uma corrida aos postos de vacinação. Todos afirmaram que a vacina deve ser tomada apenas por quem vive em áreas de risco ou em que o imunizante é indicado, respeitadas as contraindicações (pessoas com sistema imunológico comprometido, por exemplo, não devem ser imunizadas). Hage garantiu haver vacinas em quantidade suficiente. De acordo com ele, já foram distribuídas 5,4 milhões de doses extras para atender o aumento da demanda. Outras 6 milhões foram adquiridas da fabricante, Biomanguinhos. Foram encomendadas ainda 9 milhões, que serão entregues dentro de dois meses.
O Brasil exporta atualmente vacina contra febre amarela. Hage afirmou que essa atividade será mantida. “Não há necessidade de suspensão”. Ele disse, no entanto, que se houver um aumento expressivo da demanda, a exportação poderá ser suspensa temporariamente, para preservar estoques estratégicos. O volume do estoque estratégico não foi informado. Segundo o secretário de Vigilância em Saúde, Adeílson Cavalcante, a informação é sigilosa.
Bahia, que até o momento possui seis casos em investigação, afirmou que vai estender a vacinação para mais 22 cidades do extremo sul. O Estado solicitou 700 mil doses extras da vacina.
Os surtos de febre amarela podem durar em média dois meses. Hage afirmou que, uma vez concluído o surto deste ano, uma reunião deverá ser feita para se reavaliar quais as áreas consideradas de risco para a doença e se há necessidade de se expandir a recomendação da vacina para outras regiões.
O professor da Universidade de Brasília, Pedro Tauil, afirma ser preciso avaliar a possibilidade de se estender a recomendação de vacina contra a doença para todo País. O infectologista da Fundação Oswaldo Cruz e especialista em febre amarela, André Siqueira, é de opinião semelhante. Ambos afirmam, no entanto, que a discussão da medida deve ser feita somente depois de concluído o surto enfrentado no País. “A vacina contra febre amarela tem riscos, contraindicações”, afirmou Tauil.
Ele observa que, em momentos como o de agora, a atenção deve ser concentrada para população que de fato está sob risco imediato da doença. “Passado esse período, quando a vacina é incorporada na rotina, profissionais de saúde têm melhores condições de se avaliar caso a caso.” A estratégia, avaliam, seria importante para tentar aumentar a cobertura vacinal da doença. “A mobilidade hoje é enorme. Muitas vezes a pessoa se dirige a uma área considerada de risco e não se dá conta disso”, afirma Siqueira.
Diário do Sertão