O Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) é uma etapa decisiva para a escolha profissional dos jovens. Após a implantação da reforma do ensino médio, aprovada em fevereiro deste ano, esse passo tão importante poderá ser antecipado, uma vez que os alunos, ao ingressarem no antigo segundo grau, já deverão ter em mente a área de atuação que pretendem seguir.
Segundo o MEC, parte do conteúdo do novo ensino médio será dividido em linguagens e suas tecnologias, matemática e suas tecnologias, ciências da natureza e suas tecnologias e ciências humanas e sociais aplicadas.
Aos 17 anos, o estudante Vinícius Leal Borges da Cruz, que cursa o 3º ano no Colégio Villa Campus, em Salvador, é daqueles que desde muito novos já sabem o que querem ser quando crescer.
Às vésperas de prestar o Enem pela terceira vez, o jovem está focado na sua rotina de estudos e espera, em breve, ingressar no curso de Biologia. “Desde pequeno, gosto de estudar os animais. Na época, eu dizia que queria ser cientista. Quando cresci um pouco, descobri que a ciência que estava buscando era a Biologia”, relembra ele.
A consultora profissional Denise Pereira, presidente do Conselho Deliberativo da Associação Brasileira de Recursos Humanos seção Bahia (ABRH-BA), acredita que, com as mudanças no ensino médio – como a escolha da área de atuação -, as novas gerações poderão se reconhecer como personagens principais das suas vidas. “Vai ser preciso que o aluno assuma o lugar de protagonista”, frisou Denise.
De acordo com ela, essa postura substituirá o modo passivo com que muitos adolescentes encaram a vida. “Eles estão acostumados a esperar que alguém os ensine tudo e mostre o que fazer. Agora, o estudante está sendo colocado numa situação em que precisa fazer suas próprias escolhas”, diz a especialista.
Preparação
Para garantir uma boa nota na prova, Vinícius dedica cerca de quatro horas do dia aos estudos, além do tempo que passa em sala de aula. O adolescente conta as estratégias que adota para se sair bem no exame, que será realizado em novembro: “Além de resolver questões antigas, procuro focar naqueles assuntos que tenho mais dificuldade, sem esquecer de revisar aquilo que eu sei mais”, detalha ele.
Apesar da rotina puxada dedicada aos livros, Vinícius evita os excessos. “Tenho colegas que não fazem outra coisa a não ser estudar. Eu acho que é necessário a gente focar nos nossos objetivos, mas também é importante se divertir, fazer alguma coisa para relaxar, até para evitar o estresse”.
Diferentemente de Vinícius, a estudante Brenda Borges, 16, do Colégio Acesso, em Feira de Santana, mudou de ideia ao longo do ensino médio e hoje conta que tem planos bem diferentes. Ela terminou o ensino fundamental pensando em cursar Engenharia Aeronáutica, mas acabou trocando as ciências exatas por humanas. Brenda, hoje no 3º ano, prestará vestibular para Ciências Sociais.
Ela conta que muitos adolescentes costumam decidir a profissão que querem seguir baseados nas disciplinas que mais gostam. No entanto, ela diz que isso não é suficiente para definir uma carreira. “Somos muito jovens e geralmente temos uma ideia muito superficial das profissões”, afirma a estudante.
Autoconhecimento
Para minimizar as dúvidas, a consultora Denise Pereira ressalta a necessidade de os jovens se questionarem a respeito dos seus interesses pessoais e profissionais. Denise destaca a importância de buscar informações sobre as profissões, desmitificar algumas carreiras e saber se a personalidade de cada jovem dialoga com o trabalho que ele pretende fazer. “É um trabalho de autoconhecimento que deve começar cedo”, diz a especialista.
Essa missão, por sua vez, não deve ficar a cargo somente dos estudantes. A consultora de carreiras Margarida Silva explica que o processo de descoberta das profissões é também de responsabilidade das escolas e dos pais. “A família não deve estimular a criança ou o adolescente a seguir essa ou aquela carreira, mas deve dar um jeito de colocá-los em contato com diferentes áreas do conhecimento para que eles se descubram”, orienta Margarida.
Denise Pereira destaca ainda que as escolas devem promover debates com especialistas, pais e alunos, além de disponibilizar mentores que auxiliem os estudantes a descobrirem seus interesses profissionais. Além disso, a especialista recomenda às escolas a desenvolverem ações que extrapolem os limites da sala de aula e estimulem as diferentes capacidades dos jovens.
“A escola pode criar projetos de pesquisa que envolvam a comunidade, buscar envolver os alunos em trabalhos voluntários e estimulá-los organizar eventos pautados em valores éticos. Isso os
ajudará a refletir antes de tomar qualquer decisão”, finaliza.
Mercado
Os especialistas em carreira destacam ainda que é importante a vocação estar alinhadas com as demandas de mercado. Segundo Margarida Silva, é possível conciliar as aptidões com o que está sendo requisitado. “Isso tudo passa pela autogestão e está relacionado com a forma como a educação nos é passada”, disse.
De acordo com a especialista, as escolas têm papel fundamental nesse processo. “Devem abrir oficinas para que os alunos reflitam sobre as carências do mercado e, com isso, estimulá-los a ajustar as suas habilidades a essas carências. É uma maneira de despertar competências, habilidades e, ao mesmo tempo, atender as demandas”, afirmou.
Nessa edição do Enem, as provas serão realizadas em dois finais de semana.
Enem pode ser usado para… |
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Universidade |
O Enem é parte do processo seletivo de mais de mil faculdades públicas e privadas do país |
Prouni |
A nota do exame é critério na seleção para as bolsas do ProUni, programa do Ministério da Educação (MEC) que oferece a estudantes brasileiros sem diploma de nível superior bolsas de estudo integrais e parciais (50%), em instituições privadas de educação superior, para cursos de graduação e sequenciais de formação específica |
Sisu |
O Enem é a única forma de se candidatar a 51 instituições de ensino superior públicas pelo Sisu – sistema informatizado do MEC por meio do qual instituições públicas de ensino superior oferecem vagas aos participantes do Enem |
FIES |
A nota do Enem é obrigatória para a solicitação do Fies (financiamento estudantil), por meio do qual o estudante consegue financiar seu curso de graduação, com taxas variáveis |
Desempenho |
Avaliar o desempenho escolar e acadêmico ao final do ensino médio |
Indicador |
Desenvolver estudos e indicadores sobre a educação brasileira |
Referência |
Criar uma referência nacional para o aperfeiçoamento dos currículos do ensino médio |
MEC é autorizado a captar verba
O Ministério da Educação foi autorizado pela pasta do Planejamento a pedir um empréstimo de até 250 milhões de dólares (cerca de R$ 800 milhões) para financiar a reforma do ensino médio.
O empréstimo, que teve a autorização publicada na edição de anteontem do Diário Oficial da União, será feito junto ao Banco Internacional para Reconstrução e Desenvolvimento (Bird).
Em nota, o MEC afirmou que as tratativas do empréstimo começaram em março, quando o ministro da Educação, Mendonça Filho, esteve nos Estados Unidos. Os cerca de R$ 800 milhões poderão ser financiados em até cinco anos, e quase 90% do valor deverá ser usado pelo MEC para apoiar as secretarias estaduais de Educação na implantação do novo ensino médio.
O restante do financiamento, segundo a pasta, será usado em “serviços de consultoria especializados, de alto nível, para apoiar o MEC e as secretarias estaduais e distrital”.
A reforma, apresentada pelo MEC em setembro do ano passado por meio de uma medida provisória e transformada em lei em fevereiro deste ano, prevê o aumento da carga horária do ensino médio e a mudança da grade curricular, com a instituição de um mínimo de currículo obrigatório a todos os estudantes e os chamados itinerários formativos, onde as escolas poderão oferecer currículos específicos de cinco áreas diferentes.
Essas áreas são: linguagens e suas tecnologias, matemática e suas tecnologias, ciências da natureza e suas tecnologias, ciências humanas e sociais aplicadas, além da formação técnica e profissional.
Ainda de acordo com o MEC, o montante principal do empréstimo que deve ser feito com o Bird, também conhecido como Banco Mundial, estará atrelado ao Programa para Resultados, que usa indicadores para medir a eficácia das ações financiadas pelo dinheiro.
O MEC afirma ainda que vai usar o dinheiro na “formação de técnicos educacionais para a adaptação dos currículos e elaboração dos itinerários formativos”, na “reprodução de materiais de apoio”, em ações para “incentivar a implementação dos novos currículos, por meio do Programa Dinheiro Direto na Escola (PDDE)”, além de transferir “recurso às escolas para a implementação do tempo integral” e dar “suporte à capacitação de gestores e técnicos para o planejamento dessa mudança, para que se obtenha eficiência e eficácia”.
Para a implementação do ensino médio, é necessário que seja publicada a Base Nacional Comum Curricular (BNCC). Ela é que definirá as competências e objetivos de aprendizagem nas quatro das cinco áreas do conhecimento que estarão presentes no novo ensino médio.
A primeira audiência pública para discutir o texto da Base Nacional Comum Curricular foi realizada no último dia 7, em Manaus. O MEC fará também audiências semelhantes em outras quatro capitais brasileiras: Recife, Florianópolis, São Paulo e Brasília.
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