No velório do jovem que morreu em um acidente de moto, sucederam-se as visitas. No rosto de todos estavam estampadas a incredulidade, a surpresa e a dolorosa pergunta: “Por que?” Ao lado do corpo do filho, os pais, desconsolados, recebiam a solidariedade de parente e amigos. A presença silenciosa e o abraço emocionado eram os gestos mais expressivos desse sentimento. Não faltou, contudo, a quase sempre desastrada tentativa do consolo verbal. Dessa vez, partiu de uma vizinha loquaz: “O que fazer, era o destino dele!”
OUTRO exemplo: Todos os esforços feitos pelos familiares e amigos para manter o casal unido resultavam inúteis. Cada um dos esposos estava convicto de ter a verdade a seu lado. Como, então, ceder? “Se ele aceitasse as condições que eu impus, até que eu concordaria em continuarmos juntos” pensava ela. “Se ela deixasse de ser tão teimosa e mudasse sua maneira de ser, eu continuaria em casa”, pensava ele. Ninguém cedeu e a separação foi inevitável, espalhada a notícia, logo alguém observou: “O destino quis que eles se separassem”.
OS EXEMPLOS poderiam ser multiplicados. Todos, no entanto, mostram a necessidade de valorizarmos mais o poder de nossas decisões e atos. Está na hora de assumirmos a responsabilidade por aquilo que nos compete. Colhemos o que plantamos. Se plantarmos egoísmo, imprudência e maldade, os frutos que seremos obrigados a colher serão conseqüência de tais sementes.
EXISTE mesmo essa força cega, inexorável e cruel que determina acontecimentos e espalha decepções? Será a vida um jogo de cartas marcadas, que transforma todo mundo em um grupo de marionetes? Tem o homem algum poder sobre sua vida e sua história, ou deve simplesmente cruzar os braços, uma vez que não consegue transformar os acontecimentos?
NEM SEMPRE é fácil espalhar amor, bondade e dedicação. São gestos assim, contudo, que dignificam a vida do ser humano, fazendo nascer a alegria, a paz e a fraternidade. Os sábios assumem a direção da própria vida. Os acomodados apenas multiplicam reclamações, se desculpam e põem a culpa de tudo no destino.
+ Itamar Vian
Arcebispo Emérito