Com a popularização dos smartphones, os celulares invadiram nosso cotidiano. A previsão é de que, até o final de 2018, 4,9 bilhões de humanos estejam conectados à internet móvel, que surgiu em 1997. Em 2014, os chamados mobinautas ultrapassaram oficialmente o número de internautas que acessam a rede de um computador fixo.
A internet móvel utiliza a radiofrequência para a conexão, que acontece porque nossos celulares emitem ondas eletromagnéticas. O perigo potencial que elas representam para a saúde interessa a ciência há vários anos.
Um relatório que acaba de ser divulgado pelo Programa Nacional de Toxicologia – agência ligada ao Departamento de Saúde dos Estados Unidos – revelou que a exposição prolongada de ratos e camundongos às ondas 2G e 3G é responsável por cânceres cardíacos nos animais.
O estudo, encomendado pela FDA – a agência federal americana que avalia e autoriza a utilização de medicamentos e o efeito de novas substâncias – demorou dez anos para ficar pronto. A RFI entrevistou com exclusividade o cientista americano John Bucher, um dos responsáveis pelo estudo.
Segundo ele, os animais foram expostos de maneira constante à radiofrequência dentro do útero, desde que tinham 5 ou 6 semanas de idade. Os ratos foram colocados dentro de um compartimento fechado, onde ondas, diz, eram distribuídas de maneira aleatória.
Desligue o celular na hora de dormir
Durante a experiência, os animais ficavam expostos às ondas durante dez minutos. Em seguida, repousavam outros dez minutos. Isso durante 15 horas diárias, o que totalizou oito horas por dia de exposição, explicou Bucher à RFI.
Os resultados, ainda que, por enquanto, não possam ser comparados em humanos, são alarmantes: os ratos machos submetidos a altos níveis de radiação desenvolveram tumores cardíacos, e há evidências de que essa exposição também tenha provocado cânceres no cérebro e na glândula suprarrenal dos roedores.
Essa constatação de que existe uma ligação entre o uso excessivo do celular e tumores no cérebro preocupa os cientistas. Os adolescentes, viciados em seus celulares, estão expostos a um risco que deve levar anos para ser provado em humanos e, por consequência, embasar algum tipo de regulamentação.
“Uma das maiores preocupações que temos é com os adolescentes que deixam seus celulares ao lado do travesseiro para estarem sempre conectados, expondo o cérebro às ondas durante toda a noite”, lembra o pesquisador. Isso sem contar que, na puberdade o corpo está em pleno desenvolvimento e é mais suscetível a agressões externas.
Vários estudos vêm sendo feitos na Europa sobre o tema, o que explica a recomendação de cientistas que estudam o tema de desligar o celular na hora de dormir.
“Nos ratos, achamos mais tumores no coração provavelmente porque expusemos todo o corpo dos animais às ondas. Nos humanos, o efeito seria o mesmo no cérebro porque o celular fica mais próximo do ouvido”, explica o pesquisador americano. A relação entre a exposição às ondas eletromagnéticas e os tumores nas fêmeas não foi comprovada. Essa diferença, que já havia sido demonstrada em resultados preliminares do estudo divulgados em 2016, não foi explicada.
Faltam provas em humanos
Apesar dos indícios, ainda não se pode provar como a radiofrequência age de fato no organismo humano. Sem contar, observa o cientista, que os mesmos testes não foram realizados com a frequência 4G e o Wi-Fi e novas tecnologias estão sempre mudando e se aperfeiçoando. Por isso a necessidade de novos estudos.
O cientista americano lembra, entretanto, que diferentes frequências são usadas para diferentes ações no celular. “Se você usa um modelo novo de smartphone, provavelmente estará usando 3G ou 4G para streaming e 2G para o SMS”. Diante de tantas questões sem respostas sobre o efeito da radiofrequência transmitida pelos celulares, o Programa Nacional de Toxicologia está construindo um equipamento que permitirá mudar e modular a frequência mais rapidamente durante os testes.
Segundo o cientista americano, será muito mais fácil realizar as experiências com animais e obter conclusões em poucos meses. “Não é muito diferente de um micro-ondas. Não fizemos isso antes porque não sabíamos exatamente o que estávamos procurando. Agora nos sabemos”, diz Bucher.
G1