Morreu no começo da tarde de quinta-feira (21), no Hospital Geral Ernesto Simões, no bairro Pau Miúdo em Salvador, Carlos Terra, pai do adolescente Lucas Terra, encontrado carbonizado aos 14 anos, em um terreno baldio na Avenida Vasco da Gama, em março de 2001. Os exames comprovaram que o jovem foi abusado sexualmente e queimado vivo. Desde então, o pai travava uma batalha para garantir que os acusados, um pastor e dois bispos da Igreja Universal do Reino de Deus (Iurd), respondessem pelo crime.
Carlos sofria de cirrose hepática e, segundo a esposa e também mãe de Lucas Terra, Marion, o quadro do marido se agravou no final do ano passado. O corpo dele será enterrado às 13h30, no Cemitério Bosque da Paz.
O pai de Lucas Terra morreu sem ver seu maior desejo cumprido: os três envolvidos na morte do filho presos. Apenas o ex-pastor Silvio Roberto Galiza foi condenado a 18 anos em regime fechado por ter estuprado e assassinado o garoto. O motivo do crime, segundo contou em depoimento, foi porque Lucas flagrou os ex-bispos Fernando Aparecido da Silva e Joel Miranda Macedo de Souza fazendo sexo dentro da igreja.
Silvio teve a pena reduzida para 15 anos e, passou a cumprir a pena em regime aberto em 2012. Em novembro de 2013, a juíza Gelzi Almeida havia inocentado os ex-bispos. A família de Lucas recorreu e, em setembro de 2015, o Recurso de Apelação foi julgado pelo Tribunal de Justiça da Bahia (TJ-BA). Os desembargadores decidiram, por unanimidade, que os dois religiosos fossem à juri popular. Foi então a vez da defesa dos ex-bispos recorrerem.
Anulada pelo STF
Em novembro de 2018, a decisão que indicou o envolvimento dos ex-bispos Fernando Aparecido da Silva e Joel Miranda Macedo de Souza na morte do jovem Lucas Terra foi anulada pelo ministro Ricardo Lewandowski, do Supremo Tribunal Federal (STF).
Para o ministro do STF Ricardo Lewandowski, responsável pela decisão, o TJ-BA, mesmo após recurso da defesa dos acusados, decidiu manter de forma não individualizada a participação de cada réu no crime. Com isso, o advogado dos ex-bispos Fernando Aparecido da Silva e Joel Miranda Macedo de Souza, César de Faria Júnior, que aparecem como co-autores do assassinato, entrou com recurso extraordinário perante o Supremo.
Na peça, o advogado pede que o acórdão que estabeleceu a ida dos três réus, incluindo o já condenado, pastor Sílvio dos Santos Galiza, a júri popular, seja anulado ou reformulado, especificando a participação de cada um no crime, o que garantiria o direito de defesa e contraditório aos clientes dele.
Ao acatar o pedido, mesmo que parcialmente, Ricardo Lewandowski determinou que o tribunal baiano elabore novo acórdão, pontuando cuidadosamente, com base nas provas e alegações já juntadas ao processo, como foi a participação de cada acusado na morte do adolescente.
O Ministério Público da Bahia, que figura na ação como parte da acusação, garantiu que a Procuradoria Geral da República recorreria da decisão.
Luta por justiça
Lucas Vargas Terra tinha 14 anos quando foi abusado sexualmente e queimado ainda vivo por ex-bispos da Igreja Universal do Reino de Deus, no Rio Vermelho, na noite de 21 de março de 2001. O garoto havia saído de casa para um culto religioso realizado pelo bispo Silvio Roberto Galiza quando desapareceu.
Os restos de Lucas foram encontrados dentro de um caixote na Avenida Vasco da Gama e ficaram 43 dias no Instituto Médico Legal enquanto aguardavam a realização de exames de DNA. Para a família, porém, não restava dúvidas. O corpo havia sido reconhecido por um pedaço da calça usado pelo jovem ao sair de casa e por uma pequena mecha de cabelo que resistiu intacta à brutalidade.
O dia do sepultamento, quase dois meses após o crime, foi a primeira vez que a imagem do adolescente foi publicada no CORREIO. Os inúmeros cartazes e faixas espalhadas por Salvador com a foto de Lucas seriam a marca da luta de Carlos Terra, pai do garoto, pela condenação dos ex-bispos.
Em depoimento após ser condenado a 18 anos de prisão, Silvio Galiza afirmou que Lucas foi morto após flagrar o pastor Joel Miranda e o bispo Fernando Aparecido fazendo sexo. A versão é contestada até hoje por Joel e Fernando.
Fonte: Correio