O Ministério Público do Rio de Janeiro (MPRJ) e a Corregedoria da PM prenderam nesta quinta-feira (26) nove policiais militares na Operação Mercenários. Ao todo, 11 PMs eram procurados por corrupção, tortura, peculato e concussão — quando um funcionário público usa o cargo para obter vantagens indevidas.
O Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado (Gaeco/MPRJ) afirma que o grupo sequestrava criminosos mediante tortura e pagamento de resgate, vendia armas, vazava operações e fazia troia, uma espécie de tocaia para surpreender traficantes.
O MPRJ cita como exemplo que quatro dos denunciados exigiram R$ 1 milhão de Léo Marrinha, chefe do tráfico do Cantagalo/Pavão-Pavãozinho, para não prendê-lo.
Entre os investigados, estão o comandante do 15º BPM (Duque de Caxias), o tenente-coronel André Araújo de Oliveira, que foi afastado, e o chefe do Serviço Reservado (P2) do batalhão, o capitão Anderson Santos Orrico. Contra os dois havia mandados de busca e apreensão. Na casa de Orrico, agentes retiveram R$ 96 mil.
A Secretaria de Estado de Polícia Militar informou que está colaborando com as investigações.
“A secretaria e o MPRJ atuam conjuntamente para cumprimento de mandados de prisão e mandados de busca e apreensão em desfavor de policiais militares”, afirmou, em nota.
“Preventivamente, o comandante do 15º BPM foi afastado da unidade visando à isenção no andamento do caso. A Polícia Militar não compactua com desvios de conduta e tem como objetivo a apuração dos fatos”, disse.
Armas e dinheiro apreendidos
Além das prisões, foram cumpridos 35 mandados de busca e apreensão em endereços ligados aos denunciados. Os mandados foram expedidos pelo Juízo da Auditoria Militar do Tribunal de Justiça do RJ.
Um dos endereços visados foi o Batalhão de Duque de Caxias.Lá, agentes vasculharam armários e escritórios. Na sala de Orrico, o MPRJ apreendeu R$ 37 mil em espécie. Somando os R$ 96 mil da casa dele, foram R$ 133 mil retidos.
Na casa do subtenente Antônio Carlos dos Santos Alves, lotado no Batalhão de Caxias, agentes apreenderam armas pesadas, munição, radiocomunicadores, joias e R$ 120 mil em espécie.
Celular revelou esquema
As investigações da Operação Mercenários começaram depois da Operação Gogue Magogue, de julho de 2020, também contra policiais. Na ocasião, o MPRJ apreendeu o celular do então segundo-sargento Adelmo Guerini, à época no 21º BPM (São João de Meriti).
“A partir dos dados extraídos do aparelho, verificou-se que policiais militares lotados no Grupamento de Ações Táticas (GAT) do 24º BPM (Queimados) e na P2 do 21º BPM, valendo-se da função desempenhada nos batalhões, integraram organização criminosa para cometer os crimes citados”, afirma o MPRJ.
“Quando o acerto não era realizado, os denunciados realizavam atos de violência, através de extorsões, torturas e homicídios, além de desviar parte ou a integralidade de materiais ilícitos apreendidos que, muitas vezes, sequer eram apresentados à autoridade policial”, detalham os promotores.
Em fevereiro de 2020, André Araújo, então subcomandante do 24º BPM, assumiu o comando do 21º BPM, levando consigo parte do grupo para formar a P2 do 21º BPM, cujo chefe era Anderson Orrico.
“A partir deste momento, o esquema criminoso existente no GAT do 24º BPM foi copiado e implementado no 21º BPM, com seus integrantes passando a contar com informantes e arrecadadores de propina próprios”, narra o MPRJ.
Com isso, de acordo com as investigações, passaram a fazer parte da organização criminosa outros cinco policiais militares: Marcelo Leandro Teixeira, Oly do Socorro Biage Cei de Novaes, William de Souza Noronha, Fabiano de Oliveira Salgado e Thiago Santos Cardoso.
Fonte: G1