O prefeito da cidade de João Dias, Marcelo Oliveira (União Brasil), foi assassinado a tiros na manhã de terça-feira (27), no município da região Oeste do Rio Grande do Norte durante um ato de campanha política.
Embora seja conhecido como Marcelo, o nome do prefeito é Francisco Damião de Oliveira. Ele chegou a ser socorrido para uma unidade de saúde de Catolé do Rocha, na Paraíba, mas teve a morte confirmada pela Polícia Civil por volta das 13h.
O pai do prefeito, que estava com ele no momento do crime, também foi baleado e morreu. Ele foi identificado pela Secretaria de Segurança Pública como Sandi Alves de Oliveira, de 58 anos.
Segundo a Polícia Civil, a equipe da Delegacia de Alexandria foi enviada ao local do crime, em João Dias, para dar início às investigações. A polícia ainda não informou como o duplo assassinato aconteceu.
Em nota, a Secretaria Estadual de Segurança Pública informou que mobilizou equipes da Polícia Militar e Polícia Civil com o objetivo de identificar, localizar e prender os criminosos envolvidos.
Marcelo Oliveira tinha 38 anos, era casado e o atual prefeito de João Dias. Ele tentava a reeleição ao cargo nas eleições de 2024 pelo partido União Brasil.
João Dias é o terceiro menor município do Rio Grande do Norte, com pouco mais de 2 mil habitantes, segundo o IBGE. Ainda de acordo com o instituto, o município contava com apenas 294 pessoas ocupadas em 2022, com rendimento médio de 1,5 salário mínimo.
Prefeito atingido por pelo menos 11 tiros, diz médico
O prefeito Marcelo Oliveira foi morto com pelo menos 11 disparos de arma de fogo, segundo o médico que o atendeu no Hospital Regional de Catolé do Rocha, na Paraíba.
De acordo com o médico Wagner Martins, o gestor deu entrada na unidade de saúde por volta das 12h de terça-feira (27) e estava inconsciente, mas ainda com vida. O médico disse que ele foi atingido por disparos no tórax, abdômen e membros inferiores.
Tomou posse e renunciou após seis meses de mandato sob ameaças da família da sua então vice-prefeita, Damária Jácome
Eleito pela primeira vez em 2020, Marcelo renunciou após seis meses de mandato, mas voltou à Prefeitura em outubro de 2022, depois que alegou na Justiça que tinha sido coagido a abrir mão do cargo sob ameaças da família da sua então vice-prefeita, Damária Jácome e do pai dela, Laete Jácome, que era presidente da Câmara Municipal.
A renúncia de Marcelo Oliveira foi entregue em julho de 2021, meses após a posse. Posteriormente, o gestor foi à Justiça pedir que fosse reconduzido ao cargo. A defesa afirmou, no pedido, que o prefeito sofreu “coação moral irresistível consistente em ameaças de morte à sua pessoa e à sua família” e, por isso, havia deixado o mandato.
Em outubro de 2022, uma decisão da desembargadora Maria Zeneide Bezerra determinou o retorno imediato de Marcelo Oliveira ao cargo.
Em dezembro do mesmo ano, Damária e Laete Jácome foram afastados dos cargos e tiveram mandados de prisão expedidos pela Justiça, dentro de uma operação que investigava a extorsão contra o prefeito. À época, os dois negaram qualquer tipo de extorsão contra o então prefeito da cidade e alegaram que ele teria renunciado ao cargo por motivação própria.
Segundo o Ministério Público, que deflagrou a operação Omertà, além da vice-prefeita e do presidente da Câmara, as ameaças sofridas pelo prefeito eleito eram feitas pelos irmãos dela. Dois deles morreram em confronto com a polícia durante o cumprimento de mandados de prisão por tráfico de drogas na Bahia. O MP também informou que o núcleo familiar era investigado por outros crimes.
Damária também concorre ao cargo de prefeita de João Dias na eleição deste ano pelo Republicanos.
Polícia prende suspeitos de envolvimento no assassinato do prefeito
As forças de segurança do Rio Grande do Norte realizam nesta quarta-feira (28) uma operação de buscas pelos suspeitos do assassinato a tiros do prefeito de João Dias. O helicóptero Potiguar I auxilia os policiais civis e militares.
Segundo a Polícia Civil, pelo menos oito criminosos teriam participado da emboscada contra o prefeito e o pai dele.
O delegado Alex Wagner, diretor da Divisão de Polícia do Oeste, confirmou que 12 pessoas foram detidas após o crime, em duas situações distintas:
Dois suspeitos de envolvimento no assassinato do prefeito foram presos durante buscas na zona rural. Eles estavam em um carro, onde foi encontrada uma arma de fogo. Segundo a polícia, outras duas pessoas também estariam no veículo, mas conseguiram fugir.
Em outra ação policial, na noite de terça-feira (27), 10 pessoas foram detidas em uma propriedade na zona rural de Antônio Martins, cidade vizinha a João Dias. Entre elas havia policiais militares. Entre os detidos, também estava um dos irmãos do prefeito assassinado.
Nesta quarta (28), as 12 pessoas detidas foram levadas para o município de Alexandria para passar por exames de corpo de delito. A polícia ainda confirmou a apreensão de 13 armas de fogo.
“Seriam oito pessoas que chegaram e efetuaram os disparos contra o prefeito e atingiram outras pessoas como o pai do prefeito. Chegaram em dois carros. Ele estava fazendo campanha política, visitando as casas e ai aconteceu esse atentado”, afirmou o delegado Alex Wagner.
Segundo Wagner, um segurança que acompanhava as vítimas também foi baleado e socorrido a um hospital. O estado de saúde dele não foi informado.
Sepultamento
De acordo com a assessoria a Prefeitura de João Dias, a previsão é de que os corpos do prefeito e do seu pai sejam liberados pelo Instituto Técnico-Científico de Perícia no início da tarde desta quarta-feira (28) e sejam sepultados por volta das 16h no cemitério do município.
RN já teve pelo menos 8 prefeitos assassinados durante o mandato
O assassinato do prefeito de João Dias, Marcelo Oliveira (União Brasil) não foi o primeiro crime do tipo registrado contra um gestor municipal durante o exercício do mandato, no Rio Grande do Norte.
O estado tem um histórico de pelo menos outros sete assassinatos de prefeitos desde 1954, segundo levantamento é da Inter TV Cabugi do g1 RN, a maioria em cidades do Oeste potiguar.
O último caso aconteceu há pouco mais de um ano, em maio de 2023, no município de São José de Campestre. O prefeito Joseilson Borges da Costa, de 43 anos, mais conhecido como Nenem Borges, estava na sala de casa, quando sofreu cinco tiros – três deles na altura da cabeça.
As investigações apontam que Neném Borges foi alvo de uma organização criminosa que atuava na cidade e atribuíam ao gestor operações policiais contra o grupo.
Veja histórico de assassinatos de prefeitos durante o exercício dos mandatos no RN:
1954 – Lauro Maia, pai do ex-governador Lavoisier Maia, então prefeito de Patu, foi assassinado em Natal.
1983 – Expedito Alves, então prefeito de Angicos e irmão do ex-governador do RN Aluízio Alves, foi morto em praça pública.
1991 – José Gomes, então prefeito do município de Paraná, foi assassinado a tiros na calçada de casa.
1998 – Irosvaldo Carvalho, prefeito de Água Nova, foi assassinado em Natal. Na época, a suspeita foi de crime por motivação política.
2001 – Aguinaldo Pereira, prefeito de Caraúbas, foi assassinado junto com sua esposa e seus seguranças em uma emboscada em uma estrada. A acusação do crime recaiu sobre o assaltante de bancos Waldetário Carneiro.
2005 – João Dehon da Costa Neto, então prefeito de Grossos, foi morto por engano durante operação da Polícia Civil.
2023 – Joseilson Borges da Costa, conhecido como Nenem Borges, foi morto dentro de casa no município de São José do Campestre.
2024 – Francisco Damião de Oliveira, conhecido como Marcelo Oliveira, foi morto durante um evento político, ao lado do pai, o ex-vereador Sandi Alves de Oliveira, de 58 anos. Ele era candidato à reeleição.
Reportagens do g1/RN reunidas em uma só pela redação do CN