O procurador-geral da República, Paulo Gonet, dispensou a tribuna do plenário e fez o discurso de agradecimento da mesa de honra. “Estou falando sentado para não correr o risco de tropeçar na emoção”, disse, ao justificar a quebra de protocolo. Ele considerou uma “felicidade acrescida” o fato de receber o título de cidadão na mesma ocasião do “queridíssimo amigo, meu estimado, meu muito admirado” Dias Toffoli.
“É com muito orgulho que recebo o Título de Cidadão Baiano”, confessou, agradecendo aos “eminentes membros desta Assembleia Legislativa, especialmente o caríssimo deputado Alex da Piatã (PSD)”, proponente da concessão do título aprovado por unanimidade. Gonet falou do “significado especial que esta cerimônia tem para mim”. Ele questionou ainda quem não se orgulharia de ser “contado junto com os grandes brasileiros de sangue baiano, formados no cadinho das mais variadas e ricas expressões culturais”.
Gonet evitou “desfiar os nomes dos tantos que dão o luminoso brilho aos filhos dessas terras”, até para não ser enfadonho. Mas pediu a condescendência dos presentes para citar, pela fé, Santa Dulce dos Pobres; no Direito, Rui Barbosa, Orlando Gomes, Aliomar Baleeiro e Edvaldo Brito. Ele também lembrou dos “colegas e amigos Maria Caetana Cintra Santos e o meu procurador-geral, o meu amigo, o meu querido irmão Augusto Aras”.

Artistas e literatos baianos foram elencados como a demonstração “de que a brasilidade encontra nesse estado a mais afortunada expressão na multiplicidade da sua essência e mais bela síntese”. O procurador gracejou, no momento em que falava próceres da música, ao dizer que se tornavam os novos baianos (Toffoli e ele), no mesmo dia. “A nossa presidenta falou que esta é a primeira vez que são entregues dois títulos na mesma solenidade”.
Uma razão especial instigou especial regozijo ao jurista: a da ancestralidade. Ele contou que foi na Bahia que o primeiro Gonet aportou, vindo da França. Tratou-se de Jean Julian, “o bisavô do meu avô”. Eram os idos de 1823 quando o oficial do exército francês se licenciou e veio para se associar às lutas pela independência. “Vejam como esta é uma paragem que atrai de todo ponto os amigos da liberdade e os que se doam ao idealismo”, disse.
Após a expulsão dos combatentes portugueses, no 2 de julho, Julian se fixou na Bahia como professor de francês, matemática e cartografia, tendo sido contratado para cartografar o estado de Sergipe. Também foi o autor a primeira peça teatral abolicionista, que foi censurada. “Certamente esse velho Gonet vai ficar desafrontado com esse seu descendente”, avaliou, considerando que “de certo que, se pudesse prevê-lo estaria gratificado em seu coração francobaiano”.
TRAJETÓRIA

Alex da Piatã disse, ao fazer a saudação a Gonet, que seria impossível citar todo o currículo profissional do homenageado porque seriam necessárias centenas de páginas para enumerar toda a literatura e toda a sua contribuição ao direito e ao Brasil. No entanto, além de toda a trajetória, a Bahia lhe é grata “pela sua defesa, no momento em que o Brasil mais precisou e precisa em relação ao nosso Estado Democrático de Direito”.
Por conta disso, ele afirmou que “esta Casa se sente também contemplada com essa honraria. O parlamentar lembrou que a Assembleia concede o título com base nos serviços prestados ao Estado, citando o senador Jaques Wagner, que também é carioca e também foi condecorado com a cidadania baiana. Não posso esconder minha imensa alegria, como católico, homenagear outro católico na cidade do Salvador, sob as bênçãos da nossa santa baiana, Dulce dos Pobres.
O parlamentar fez questão de parabenizar a deputada Ivana Bastos, que se tornou a primeira mulher a assumir a Presidência da Assembleia, justamente no mês de março, dedicado à mulher. “A senhora já entrou, para sempre e indelevelmente, nos anais da história da Bahia”, destacou, ressaltando que “demorou quase dois séculos para que uma mulher pudesse chefiar o Legislativo baiano, mas Deus, que mexe os dados do nosso destino, quis que fosse uma mulher do seu calibre e da sua envergadura moral e política, além de toda a delicadeza e doçura que é a sua pessoa”.
CN | Fonte: ALBA