Cerca de 534 mil pessoas ainda não tomaram a dose de reforço contra a covid-19, em Salvador. Em toda a Bahia, são quase 3 milhões de faltosos. Os números preocupam as autoridades sanitárias que temem que a vacinação incompleta aumente a quantidade de casos graves e de internações. Os surtos de gripe e de covid, iniciados no final do ano passado, tem sido outra barreira, porque impedem a aplicação a 3ª dose de imediato.
Na casa da operadora de caixa Isabela Nascimento, 34 anos, a mãe e a irmã dela planejavam tomar a dose de reforço esta semana, mas testaram positivo para covid no fim de semana e tiveram que suspender a aplicação. Isabela começou a manifestar sintomas leves, mas ainda não fez o teste.
“Minha dose de reforço seria na próxima semana, mas não vou. Primeiro, vou fazer o teste. Se der positivo, já sei que vou ter que esperar passar uns dias para me vacinar. Se der negativo, mas eu ainda estiver com febre e tosse, vou tomar os remédios e esperar passar os sintomas antes de tomar a vacina”, disse.
O professor de imunologia e alergologia da Universidade Federal da Bahia e da UniFTC, Celso Sant’anna, contou que o pensamento de Isabela está correto, mas disse que quem tem que fazer essa avaliação é um profissional.
“Não é recomendado que pessoas com sintomas gripais de vacinem, mas cada caso é um caso. Dependendo dos sintomas e das condições do paciente se, por exemplo, ele tem alguma comorbidade, pode ser mais seguro que ele seja logo imunizado. O contexto tem que ser analisado por um profissional. Então, ficou doente, procure um médico”, contou.
Ele explicou que a cepa Ômicron tem transmissibilidade alta e que até sete dias após a infecção o paciente ainda pode transmitir o vírus. “A dose de reforço é fundamental porque seis meses após a 2ª dose o nível de imunização diminui. A dose extra reforça o sistema imunológico para enfrentar uma reinfecção. Além da vacina, que é a principal arma contra a doença, é preciso adicionar medidas não farmacológicas, como o uso de máscara PFF2, o distanciamento e a higienização das mãos”, afirmou.
Em Salvador, são 533.902 pessoas com a dose de reforço em atraso, segundo dados da Secretaria Municipal de Saúde (SMS) apurados até a quarta-feira (2). Existe também 189.474 soteropolitanos que não foram tomar a 2ª dose e 27.391 que não tomaram sequer a 1ª dose, sendo 13.201 de 12 a 17 anos, e 14.190 com18 anos ou mais. O subsecretário municipal de Saúde, Décio Martins, contou que haverá um mutirão, nesta sexta-feira (4).
“Vamos vacinar apenas pessoas que precisam tomar a 3ª dose e pedimos que a população compareça. São 533 mil ausentes, esse é um número que está nos preocupando. A prefeitura tem feito a sua parte, divulgando, fazendo mutirões e busca ativa, mas é importante que a população colabore, completando o esquema vacinal”, disse.
Cerca de 2 milhões de pessoas tomaram a 2ª dose ou a dose única. Já a dose de reforço, importante para garantir a proteção principalmente nesse momento de alta de casos, foi aplicada em apenas 753 mil pacientes. Para o subsecretário os surtos de gripe e de covid podem ter algum reflexo, mas o descaso com a vacinação é anterior a esse período.
“Quem foi diagnosticado com covid precisa aguardar 30 dias após a infecção para receber a vacina, mas a baixa procura já estava acontecendo antes da variante Ômicron. No ano passado houve uma queda nos números da pandemia e muita gente relaxou”, disse.
Ele contou que a pressão sobre os gripários diminuiu, e atribuiu a mudança a abertura de novas unidades e ao aumento de postos de testagem. Na rede privada a pressão ainda está alta, mas estabilizou. Cerca de 1,4 mil trabalhadores da SMS estão afastados das funções porque foram infectados. Segundo a pasta, 80% das pessoas internadas devido ao coronavírus não se vacinaram ou estão com o esquema vacinal incompleto.
Em toda a Bahia
Os atrasos registrados em Salvador também se repetem nos outros municípios baianos. Segundo a Secretaria Estadual da Saúde (Sesab), até a terça-feira (1º), havia 6.297.376 pessoas com vacinas atrasadas. São 2,9 milhões que já poderiam ter recebido a dose de reforço, 1,7 milhão com a 2ª dose pendente e 1,6 milhão que não tomaram ainda a 1ª dose.
O público alvo são pessoas com 12 anos ou mais, o que na Bahia representa 12.718.840 cidadãos. Desse total, 9,5 milhões receberam as duas primeiras doses e estão protegidos, ou seja, 74,9%, e outros 264 mil tomaram a dose única, ou seja, 2,1%. Já a dose de reforço foi aplicada em 2,5 milhões de baianos, o que equivale a 22,6% do público alvo. Em nota, a Sesab disse que tem feito o possível para incentivar a proteção.
“A operacionalização da vacinação é dos municípios, desta forma as principais ações são realizadas pelos municípios. A Sesab incentiva os municípios a desenvolverem iniciativas a fim de que o número de faltosos seja reduzido. Alguns exemplos são a busca ativa, quando agentes de saúde vão até às residências das pessoas, e disponibilização de unidades móveis, facilitando o acesso”, diz a nota.
Cenário
A ausência nos postos de imunização preocupa porque, apesar de estabilizados, os números da pandemia ainda são altos. A principal demanda tem sido na porta dos gripários e das Unidades de Pronto Atendimento (UPAs) com pacientes com sintomas gripais, como febre, dores no corpo, tosse e indisposição. Na terça-feira, durante a abertura dos trabalhos na Assembleia Legislativa, o governador Rui Costa (PT) comentou sobre a situação.
“Nos últimos três dias, o número ficou no patamar de 30 mil [novos casos a cada 24h] e espero que não cresça nos próximos dias. Caso esse número se confirme por 3 ou 4 dias significa que chegamos no platô, no pico de casos, que é alto, e a tendência, em seguida, é de queda. Continuamos monitorando. Ampliamos os leitos de UTI infantis e de adultos para suportar esse crescimento e esperamos que, no máximo, em 15 dias comece a queda desses números”, analisou.
A taxa de ocupação dos leitos de UTI adulto na Bahia está em 74%, nesta quinta-feira (3). Leitos de enfermaria em 59%. Já UTI e enfermaria pediátrica está em 90% e 79%, respectivamente. Em Salvador, os leitos pediátricos de UTI e clínico então com 95% e 90% de ocupação, e os leitos adultos de UTI e clínico com 77% e 70%. Até o início de novembro do ano passado a taxa de ocupação da UTI adulta na capital alternava entre 25% e 35%.
Pandemia em números:
Bahia
1ª dose em atraso: 1.603.046
2ª dose em atraso: 1.790.363
Dose de reforço em atraso: 2.903.967
Salvador
1ª dose em atraso: 27.391 mil
2ª dose em atraso: 189.474 mil
Dose de reforço em atraso: 533.902 mil
Taxa de ocupação na Bahia
Adulto UTI: 74%
Adulto clínico: 59%
Pediátrico UTI: 90%
Pediátrico clínico: 79%
Taxa de ocupação em Salvador
Adulto UTI: 77%
Adulto clínico: 70%
Pediátrico UTI: 95%
Pediátrico clínico: 90%
Fonte: Correio