Foi sepultado na tarde de quinta-feira (17), no cemitério de Biritinga, no território do sisal, o corpo de Evaneide Pereira Santos, de 16 anos. Ela morreu na tarde de quarta-feira (16) após ser atingida por uma descarga de raio dentro da residência situada no Povoado de União, há 8 km de Biritinga, onde morava com a família.
A adolescente estava dentro da casa juntamente com os irmãos Ednaldo 21 anos e Antonio Pereira dos Santos,26, quando por volta da 15h30, começou a chover e relampejar. Segundo Ednaldo Pereira, de repente um clarão tomou conta da casa e os três caíram ao chão, sendo que os homens conseguiram resistir ao impacto, mas Evaneide, inicialmente, de acordo com informações de familiares, teria desmaiado e levada para o Hospital Municipal de Biritinga, aonde chegou sem vida.
A mãe dos três jovens, Genésia Anunciação Pereira, 53 anos, não estava em casa na hora do acidente, havia viajado para cidade de Biritinga, mas voltava em um carro que realiza o transporte alternativo na região e por mais de uma hora ficou parada na estrada, por causa das fortes chuvas e pôde observar os fortes relâmpagos seguidos de raios e chegou a imaginar que um deles havia caído em sua residência. “Quando vi aquele relâmpago forte na direção da minha casa, sentir um negócio ruim dentro de mim e pensei na minha filha”, contou Dona Genésia, que além de Evaneide, Antonio e Edvaldo Pereira, tem mais seis filhos.
Chorando bastante, Genésia Anunciação lembrou que a filha era uma excelente aluna da Escola Municipal Ana Nery, situada no Povoado de Campo da Ema, frequentava as atividades religiosas da comunidade eclesial de base do Povoado de União e gostava muito de assistir televisão. Genésia disse ao CN que tem trauma de raio, pois há 24 anos, numa véspera da natal, perdeu o irmão Jailton Jesus Pereira, na época com 17 anos, vitima de descarga elétrica também provocada por raio e na mesma circunstancia da filha, estava dentro de casa.
Numa linguagem e com comportamento de autêntica sertaneja, Genésia trás consigo superstições e lendas sobre raios. Com a tragédia da perda da filha, “um raio nunca cai duas vezes no mesmo lugar, não é verdade”, pois havia perdido uma filha e um irmão, mesmo com diferença do tempo. Quando está relampejando, ela disse que não segura objetos metálicos a exemplo tesoura, alicate, enxada e até mesmo cobre os espelhos.
Genésia disse ao CN que estava decepcionada por algumas informações passadas pela imprensa de que a filha estaria embaixo de uma árvore usando celular. Ela estava pegando uma camisa para dá o irmão para vestir, pois seguimos os princípios de que devemos respeitar esse momento e ficamos em silêncio em casa. Questionado sobre uma platina que a filha tinha em um dos braços, ela disse que sim e foi colocada quando tinha cinco anos em decorrência de um acidente.
O que acontece com uma pessoa que é atingida por um raio – Segundo a biofísica Alice Ferreira, da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), o raio cair bem em cima da pessoa, a morte é instantânea, com raras exceções. A corrente que passa pelo corpo nesses casos é de 30 mil a 40 mil amperes, cerca de mil vezes mais forte que a corrente de um chuveiro elétrico e causa danos irreversíveis ao sistema nervoso e ao coração.
O que é um raio? – O raio é um tipo de eletricidade natural e quando ocorre uma descarga atmosférica temos um fenômeno de rara beleza, apesar dos perigos e acidentes que o mesmo pode provocar.
Os raios ocorrem porque as nuvens se carregam eletricamente. É como se tivéssemos uma grande bateria com um pólo ligado na nuvem e outro pólo ligado na terra.
Se ligarmos um fio entre a nuvem e a terra daremos um curto-circuito na bateria e passará uma grande corrente elétrica pelo fio. O raio é este fio que liga a nuvem a terra. Em condições normais, o ar é um bom isolante de eletricidade. Quando temos uma nuvem carregada, o ar entre a nuvem e a terra começa a conduzir eletricidade porque a voltagem existente entre a nuvem e a terra é muito alta: vários milhões de volts.
O raio provoca o curto-circuito da nuvem para a terra e pelo caminho formado pelo raio passa uma corrente elétrica de milhares de ampéres. Um raio fraco tem corrente de cerca de 2.000 A, um raio médio de 30.000 A e os raios mais fortes tem correntes de mais de 100.000 A (um chuveiro tem corrente de 30 A).
Os raios podem sair da nuvem para a terra, da terra para a nuvem ou então sair da nuvem e da terra e se encontrar no meio do caminho.
Os raios são perigosos? – Os raios trazem uma série de riscos para as pessoas, animais, equipamentos e instalações. Mesmo antes de um raio cair já existe perigo. Antes de cair um raio, as nuvens estão carregadas de eletricidade e, se por baixo da nuvem tivermos, por exemplo, uma cerca muito comprida, os fios da cerca também ficarão carregados com eletricidade. Se uma pessoa ou animal tocar na cerca irá tomar um choque elétrico, que em alguns casos poderá ser fatal.
O choque elétrico ocorre quando uma corrente elétrica circula pelo corpo de uma pessoa ou animal. Dependendo da intensidade da corrente e do tempo em que a mesma circula pelo corpo, poderão ocorrer consequências diversas: formigamento, dor, contrações violentas, queimaduras e morte. Se um raio cair diretamente sobre uma pessoa ou animal, a possibilidade de morte é alta.
Choveu forte na região – Desde o dia 01 de dezembro de 2012 que não chovia na região. Segundo o aposentado José Magalhães Carvalho, 83 anos, conhecido por Zé Pequeno, residente na Fazenda Montanha, no dia 01 de novembro deu uma “chuvarada” boa e “fez” água nos tanques da região, porém a de dezembro foi em menor proporção. As chuvas de quarta-feira chegaram com trovão, relâmpago e muito vento.
A principal estrada de acesso ao Povoado de União, sentido quem segue para a vizinha cidade de Serrinha, está interditada por causa dos buracos provocados pelas enxurradas. Os danos maiores estão na localidade conhecida como Baixa da Montanha, onde o trafego de veículo está interrompido, nas laterais são vistas profundas crateras como esta.
A aposentada lembrou que há muitos anos não acontecia na região morte em consequência por queda de raios e ouviu contar, em 1964, que uma mulher havia morrido na região e dai pra cá, só o caso da adolescente que morava a 04 km da sua fazenda.
Por: Valdemí de Assis / fotos: Raimundo Mascarenhas