Escrevo essas maltraçadas linhas sob o influxo do passamento de Nelson Mandela, para discorrer sobre uma possível candidatura do Ministro Joaquim Barbosa a Presidência da república. E, as coisas têm mais a ver que a simples coincidência de ambos serem negros.
Mandela entrou para a História como um Herói porque foi uma referência de defesa intransigente de ideais sem cair nas tentações da intolerância, mesmo dispondo, quando chegou ao poder,de forte lastro social para esmagar seus antigos algozes. E também não se deixou seduzir pelo próprio poder, tanto que não buscou um segundo mandato Presidencial.
O Ministro Joaquim Barbosa é um símbolo de ascensão social de um filho da maioria excluída. E, na Presidência do supremo tribunal Federal, carimbou-se como implacável combatente contra os corruptos.
Enfim, ambos cumpriram agendas essenciais para os seus povos e nos seus respectivos espaços de tempo. Ocorre que Mandela tornou-se um líder nato e, quanto ao Ministro, tem gente querendo fazer dele um mito e levá-lo a mais Alta Magistratura Nacional, como se não bastasse aquela que já lhe dá a toga.
Se bem repararmos, essa construção tem semelhanças fortíssimas com outras aventuras eleitorais do passado. A mais retumbante delas foi a vassoura de Jânio Quadros para varrer a corrupção. O resultado todo mundo sabe.
Jânio era um político populista e conservador, que alcançou projeção nacional apenas por seu carisma e perspicácia para aproveitar o falso moralismo político nacional. E é justamente esse falso moralismo que está a procura de um novo Kid-Decência para ofertar a nação.
Não vai aqui nenhum menoscabo a importância do combate a corrupção. Mas ela não é um fenômeno que existe e sobrevive por seus próprios atributos.
A baixa participação política popular permite que uns poucos se utilizem do Estado em seu próprio proveito. E a falsa percepção de que o Sistema é infenso a processos depuradores das práticas institucionais faz com que a maioria renuncie a uma cidadania mais proativa. Logo, a corrupção é um dos elos do ciclo vicioso alimentado pelo que Bertold Brecht chamou de analfabetismo político.
Mas, historicamente a corrupção tem sido utilizada como a encarnação da saúva de que um dia falou Augustin François. E prometendo combatê-la sempre aparecem figuras descoladas de um projeto mais amplo de governo.
Não estou aqui desqualificando quem quer que seja para exercer a Presidência da República. Só que o ativismo assumido pelo Supremo Tribunal Federal nos últimos tempos não credencia automaticamente os seus membros ao posto de Mandatário da Nação.
Aos mal-avisados ou mal-intencionados de plantão, digo que o combate aos corruptos não tem para o Brasil a mesma dimensão democrática que a superação do Apartheid teve para a África do Sul. Portanto, o espectro de Nadiba não se presta a propulsor de um novo Projeto Lacerdista, cujo legado é mais trágico que a Rua Toneleiros.
MARIO LIMA
ADVOGADO E PROCURADOR DO ESTADO DA BAHIA