Após divulgar o início das investigações sobre um esquema de venda de bebês através de uma comunidade do Facebook, a Polícia Civil de Pernambuco anunciou, nesta quarta-feira (31), que abriu inquérito para apurar a suposta comercialização de uma recém-nascida através de outra página da mesma rede social. A negociação foi discutida entre a mãe da criança, uma universitária de 19 anos, moradora do Recife, com uma mulher de Salvador (BA), interessada inicialmente em fazer uma adoção. Segundo o delegado da Gerência de Polícia da Criança e do Adolescente (GPCA), Geraldo da Costa, a estudante divulgou na internet que venderia a filha por R$ 50 mil.
A denúncia chegou até a polícia depois que a moradora da Bahia informou o caso às autoridades. “A mulher que queria comprar a criança mandou e-mail para o Ministério Público aqui em Pernambuco, informando que uma mãe estava leiloando a filha pela internet. Aí o MPPE acionou o Conselho Tutelar e mandou ofício para a delegacia para que fosse instaurado inquérito”, contou o delegado. Apesar de as informações terem sido divulgadas hoje para a imprensa, as investigações começaram há cerca de um mês.
Em depoimento à polícia, a universitária afirmou que decidiu vender a criança porque estava assustada. De acordo com a polícia, ela já é mãe de dois filhos e mora em um bairro de classe média da Zona Norte da capital pernambucana. “Ela confessou que ofereceu o filho por R$ 50 mil para essa mulher de Salvador. Acrescentou que ficou assustada porque não sabia que estava grávida e teve a criança prematuramente, o bebê nasceu no sexto mês de gestação. Também disse que só tomou conhecimento da gravidez no momento do parto e, depois disso, entrou em um estado de loucura e resolveu vender a criança”, detalhou Geraldo da Costa.
Nas conversas entre as duas, retiradas do Facebook pela polícia, a mãe comentou que o dinheiro seria usado para cobrir as despesas médicas da maternidade e que já haveria um casal interessado em comprar a criança. No entanto, segundo a polícia, a bebê nasceu em um hospital particular da capital pernambucana e morreu este mês.
Ainda de acordo com o delegado, a mãe ressaltou que, hoje, com a sanidade mental recuperada, jamais venderia a filha. “Porém a gente apura o crime, ela já ofereceu [a bebê para venda], então houve crime. Se o problema dela foi realmente de sanidade, só a Justiça vai analisar”, pontuou. Geraldo da Costa informou que só falta ouvir o namorado da estudante na época em que ela teve a criança para concluir o inquérito. “Fomos informados de que ele está viajando. Queremos saber se ele tem participação na negociação pela internet”.
Como não houve flagrante, a estudante continua em liberdade, mas o delegado antecipou que ela deve ser indiciada conforme o artigo 238 do Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA), que prevê pena de 1 a 4 anos de reclusão mais multa para quem oferece o filho mediante promessa de pagamento de recompensa.
A Polícia Civil de Pernambuco vai enviar ofício solicitando que a polícia baiana também apure a responsabilidade da moradora de Salvador interessada em comprar o recém-nascido. “À princípio, ela é a denunciante, mas vamos mandar ofício para a delegacia de lá para investigar a real intenção dela”, concluiu o delegado.
Esquema ilegal
Foi retirada do ar, na tarde desta quarta (31), a comunidade onde mulheres grávidas ofereciam bebês a interessados em adotar uma criança, cobrando de R$ 7 mil a R$ 10 mil pela transação. Responsável pelo caso, o delegado da GPCA, Ademir de Carvalho, informou que a polícia trabalha para tentar identificar os envolvidos no esquema. “Estamos aguardando mais informações, solicitadas ao Facebook, e procurando os responsáveis”.
A Polícia Civil do estado foi avisada sobre a negociação na rede social pela promotora da Infância e Juventude, Daiza Cavalcanti. “Logo que tomei conhecimento, comuniquei à autoridade policial e fizemos um ofício conjunto pedindo a retirada da página da comunidade do ar. Eu fiquei chocada. É uma prática ilegal. Não tem nenhum respaldo jurídico. É um crime”, comentou.
Procurada pelo G1, uma das mulheres que fez uma publicação no perfil e deixou número de telefone para adotar um bebê negou a negociação. Moradora do Rio de Janeiro, ela relatou que está grávida de três meses e desconhecia a existência da comunidade. “Eu estou grávida. Como vou adotar? Eu tenho até Facebook, mas nunca deixei mensagem pedindo criança ou oferecendo meu filho. Estou pensando em prestar queixa na polícia, não fui eu que escrevi”, explicou.
No início da noite, o delegado Ademir de Carvalho também afirmou que irá solicitar ao Facebook que retire do ar a outra página onde a universitária do Recife tentou vender a filha por R$ 50 mil. Em nota, a assessoria de imprensa da rede social informou que não comenta casos específicos. Ressaltou que “na plataforma há um procedimento para denunciar conteúdos, que traz uma série de informações”.
Com informações do G1 BA*