“Deus está na frente da Telexfree”, enfatiza o diretor e sócio da empresa, Carlos Costa. Com voz grave e um discurso articulado e emotivo, ele usa o que psicólogos e especialistas em discurso chamam de “sacralização”: o uso repetitivo e frequente de temas religiosos entrelaçados a argumentos. Em uma videoconferência online para milhares de investidores da empresa, que após atrair 1 milhão de pessoas foi paralisada pela Justiça, acusada de ser uma pirâmide financeira, Costa cita 25 vezes os nomes de Deus e Jesus em 15 minutos. A estratégia dá resultado. “Essa empresa é de Deus” virou um mantra dos milhares de investidores.
Ser religioso ou não é opção de cada um, claro. Mas o apelo a temas sagrados, misturado a uma fantasia de realização pessoal, é uma estratégia conhecida há anos como uma “via expressa” para ganhar plateias, explica Rita Fucci-Amato, pós-doutora em Gestão pela Universidade Católica de São Paulo (USP) e autora dos livros “A voz do líder: arte e comunicação nos palcos da gestão” e “Do gesto à gestão: um diálogo sobre maestros e liderança”.
A Telexfree começou no País ano passado. Ela se apresenta como empresa de telefonia VoIP (ligações pela internet) que usa uma rede de vendedores de seus serviços. A Telexfree cobrava adesões a partir de R$ 600 e pagava bônus altíssimos para quem arregimentasse mais pessoas. Para uma força-tarefa dos Ministérios Públicos, Procons, Ministérios da Fazenda e Justiça, ela é uma pirâmide, crime contra a economia popular que traz perdas de 70% para quem apostou no negócio.
A empresa operou por um ano até ser suspensa em 18 de junho, tempo para muita gente tomar empréstimos e até deixar o emprego para investir tudo na Telexfree. Paralisada, em seus comunicados ela passou a citar Deus e Jesus até por escrito, como em uma nota de 15 de julho: “Aguardem e continuem confiando, primeiro em Deus, e nessa empresa que só proporciona o bem a todos os seus divulgadores.”
Nos vídeos, Costa prega tranquilidade, ao passo em que incita seus fiéis contra o judiciário e os críticos.
“Gente, pensem bem: a empresa está fechada e vocês estão se unindo cada vez mais. Isso é o poder de Deus”, diz o diretor, na videoconferência do dia 2.
A despedida, claro, é bem emotiva: “Pessoal, fiquem com Deus. Que Deus abençoe a vida de todos vocês. Ele está no comando de tudo e aqui ninguém vai passar por momento difícil não, porque Deus vai nos ajudar, tá bom? Um abraço e até o próximo vídeo.”
Com informações do Jornal do Commercio*