O estudante Lucas Yuri Bezerra, de 16 anos, não descansou até descobrir o dono da carteira que ele achou no lixo no Distrito Federal. Dentro havia R$ 1,6 mil, o orçamento de uma oficina mecânica e um telefone anotado, mas nenhum documento. O incidente aconteceu na manhã da última terça-feira (11), quando ele ia para o Centro de Ensino Fundamental 312 de Samambaia.
“Estava indo para a escola com uns amigos meus, aí olhei para baixo e vi a carteira no meio do lixo. Achei que alguém tivesse jogado fora. Dei para o meu amigo brincando. Ele acabou jogando para cima, também brincando. Quando ela subiu é que a gente viu o dinheiro. Ele catou e saiu correndo, dizendo que era dele. A gente conversou, e eu o convenci a devolver”, explica.
Inquieto durante a aula, o garoto chamou a atenção da professora, que recomendou que ele procurasse a coordenadora da instituição. Rivânia de Araújo lembra que o menino estava decidido a devolver o dinheiro, mas se dizia angustiado com a falta de pistas para achar o dono.
“Ele estava nervoso, sem saber o que fazer”, conta. “Por duas vezes perguntei se ele queria que achasse o dono, se ele queria mesmo, porque aí eu investigaria. Ele não teve dúvidas de que sim.”
A coordenadora ligou na oficina mecânica e, quase dez horas depois de a carteira ser encontrada, localizou o dono. O pedreiro aposentado Benício Eleutério, de 66 anos, acabou deixando a carteira no lixo quando saía para levar a mulher ao médico. Ela sofre de problemas no joelho e anda com dificuldades.
O dinheiro – correspondente a todo o benefício que recebe – seria utilizado para pagar as contas de casa, abastecer o carro e comprar remédios. O idoso só notou que tinha perdido a carteira quando chegou ao Hospital Universitário de Brasília, a quase 25 quilômetros de distância.
Honestidade
Lucas, que sonha em ser militar ou engenheiro, trabalha todas as tardes como auxiliar administrativo de um hospital. Ele ganha meio salário mínimo e usa o dinheiro para ajudar a mãe e o padrasto, que estão desempregados e têm três filhos. Mesmo com dificuldades, o garoto diz que em momento algum cogitou ficar com os R$ 1,6 mil.
“O dinheiro não era meu. Então não era certo. Mesmo que eu não achasse o dono, eu não conseguiria gastar. Simplesmente não era meu. Não podia gastar, mesmo sem saber. Se eu gastasse, sentiria que eu tirei o dinheiro de alguém”, explica. “Fiquei realmente preocupado de não achar.”
A coordenadora Rivânia de Araújo conta que questionou colegas do jovem e que poucos disseram que teriam a mesma atitude que a dele. “Muitos disseram que não entregariam, até porque não tinha documento.”
“[A sensação é de] Dever cumprido. A gente está vendo só notícia ruim da nossa periferia, aqui em Samambaia, e quero crer que, como o Lucas Yuri, têm muitos Lucas aqui na escola”, completou a coordenadora.
G1.com