O porcentual de famílias com dívidas diminuiu em junho, mas o de famílias inadimplentes subiu pelo quinto mês consecutivo, revela a Pesquisa de Endividamento e Inadimplência do Consumidor (Peic), divulgada nesta quinta-feira, 29, pela Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (CNC). A proporção das famílias com dívidas ou contas em atraso atingiu 24,3% em junho, o nível mais alto no ano.
A liberação de saques nas contas inativas do Fundo de Garantia do Tempo de Serviço (FGTS) nos últimos três meses não foi suficiente para reduzir o nível de inadimplência que, tem no desemprego o grande vilão, avalia a economista da CNC, Marianne Hanson.
“O porcentual de famílias endividadas caiu porque parte delas aproveitou esse recurso para evitar rolar uma dívida, como o rotativo do cartão de crédito. Mas o volume foi insuficiente para aliviar o orçamento das famílias com dificuldades de pagar as contas em dia. Boa parte dos saques do FGTS tinha um valor baixo”, avalia Marianne. Outra hipótese é que com algum membro da família desempregado os recursos tenham sido usados para arcar com gastos cotidianos.
A taxa de desemprego no País alcançou 13,6% no trimestre encerrado em abril, o pior desempenho para essa época do ano dentro da série histórica da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (Pnad Contínua), iniciada em 2012 pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). De acordo com Marianne, a dificuldade em encontrar emprego piora principalmente a situação de famílias de baixa renda.
A pesquisa da CNC mostra que o porcentual de famílias com contas ou dívidas em atraso em junho teve alta apenas no grupo com renda inferior a dez salários mínimos. O porcentual passou de 27,3% em maio de 2017 para 27,6% em junho de 2017. Um ano antes, 25,8% das famílias nessa faixa de renda haviam declarado ter contas em atraso. No grupo com renda superior a dez salários mínimos a fatia de inadimplentes caiu para 10,8%.
“Do lado da demanda, esse cenário do mercado de trabalho faz com que as famílias sejam mais cautelosas. Apesar da melhora da confiança, o medo do desemprego assusta. Do lado da oferta, ainda há dificuldade de encontrar crédito em condições que caibam no bolso”, afirma.
Também chama a atenção o total de famílias brasileiras que declararam não ter como pagar as dívidas. Em março esse indicador alcançou o segundo maior patamar (9,9%) desde o início da pesquisa, em janeiro de 2010, e não está cedendo significativamente. Em junho o porcentual ficou em 9,6%. “Houve uma queda em abril, mas voltou a subir. Isso quer dizer que há um pessimismo muito grande em relação à capacidade de pagamento, o que bate de novo no desemprego”, diz.
Para Marianne Hanson o quadro aponta para uma recuperação lenta do consumo das famílias. “Enquanto não houver uma melhora no mercado de trabalho, o que depende da retomada da atividade econômica, será difícil ver uma recuperação mais forte do consumo. Mesmo menos endividadas as famílias estão sem espaço no orçamento para voltarem a tomar empréstimos e consumir”, resume.