O governador de São Paulo, Geraldo Alckmin (PSDB-SP), disse neste sábado (12) que não irá reforçar sua segurança pessoal após a divulgação de escutas telefônicas em que líderes da facção criminosa PCC (Primeiro Comando da Capital) conversavam sobre a intenção de matá-lo.
“Nós não pretendemos fazer nenhuma mudança em termos de segurança pessoal”, disse Alckmin após participar da missa em homenagem a Nossa Senhora Aparecida, em Aparecida (180 km da capital paulista).
Quatro policiais militares estavam presentes na sala em que o governador concedeu uma entrevista coletiva, no final da celebração. Também chamou a atenção a presença de soldados nas proximidades do altar, durante a missa.
Alckmin disse ter pedido a seu ajudante de ordens, que é tenente da PM, a retirada dos policiais. A resposta, segundo o tucano, foi que o reforço de segurança havia sido solicitado pela basílica do Santuário Nacional. “Para os milhares de romeiros que aqui vêm, é necessário e importante”, disse o governador.
O cardeal dom Raymundo Damasceno, arcebispo de Aparecida e presidente da CNBB (Conferência Nacional dos Bispos do Brasil), disse que a igreja sempre solicita reforço do policiamento em dias de grande concentração como o feriado de Nossa Senhora.
As declarações de líderes do PCC sobre um ataque ao governador fazem parte de uma investigação do Ministério Público de São Paulo que foi divulgada nessa sexta-feira pelo jornal “O Estado de S. Paulo”. A investigação durou três anos e meio e identificou 175 suspeitos de tráfico de drogas e formação de quadrilha.
Indagado sobre a afirmação de Marcos Herbas Camacho, o Marcola, líder máximo do PCC, de que a redução do número de homicídios no Estado havia sido resultado de ordens da facção para dificultar as execuções, e não de ações do governo, Alckmin defendeu sua política de segurança.
“Os homicídios cresceram no Brasil todo. São Paulo fez um esforço enorme contra os crimes contra a vida”, disse o governador. “Foi fruto de muito trabalho que São Paulo saiu de 35 homicídios por 100 mil habitantes para praticamente 11.” Ele disse acreditar que, no final do ano, o índice fechará em 10 homicídios por 100 mil habitantes.
“Não é por acaso que temos 22% da população brasileira e 38% da população carcerária. O Estado trabalha, prende, tira da rua quem comete crime”, disse o governador. Alckmin declarou que “o crime organizado age nacionalmente” e lembrou que, durante o governo Lula, o então ministro da Justiça Márcio Thomaz Bastos solicitou a transferência do traficante carioca Fernandinho Beira-Mar para Presidente Bernardes (SP).
O governador não quis detalhar quais serão as medidas tomadas pelo Estado diante das novas denúncias. “Deixa que o secretário de Segurança Pública fale sobre essa questão de investigação, procedimentos.” O titular da pasta, Fernando Grella Vieira, não estava presente.
Dom Damasceno comentou o fato de as investigações apontarem a possibilidade de o PCC tentar influenciar decisões do STF (Supremo Tribunal Federal). O órgão barrou a contratação de um assessor para o gabinete do ministro Ricardo Lewandowski depois de ser alertado por promotores de que ele era irmão da advogada de um dos chefes da quadrilha.
“Isso realmente é muito delicado, uma coisa realmente séria. Não se pode permitir que instituições que merecem respeito e que devem zelar pelo bem do país, pela democracia, pela paz, pela segurança, pela justiça possam estar de uma forma ou de outra implicadas com o crime organizado. Não se pode permitir isso de forma alguma”, disse o cardeal.
Folhapress/foto: arquivo Raimundo Mascarenhas